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Soraya Thronicke propõe 'armas não letais para as mulheres se defenderem'
Mulheres no Poder

Soraya Thronicke propõe 'armas não letais para as mulheres se defenderem'


Candidata à Presidência pelo União Brasil, defende a ampliação de Casas da Mulher Brasileira, distribuição de armas não letais e aulas gratuitas de defesa pessoal como forma de combater a violência contra mulheres. A senadora é também da bancada ruralista e apoiadora do marco legal como critério para demarcação de terras indígenas.

A senadora Soraya Thronicke entrou aos 45 do segundo tempo nas eleições presidenciais para substituir o deputado federal Luciano Bivar, que desistiu de candidatar-se para apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Advogada de família do Mato Grosso do Sul, a senadora, representante do União Brasil, foi eleita em 2018 fazendo campanha para o presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem tornou-se adversária e alvo de ataques. Hoje, diz que o presidente traiu bandeiras como o liberalismo e o combate à corrupção, e que não pretende apoiá-lo num eventual segundo turno contra Lula. “Os filhos do Bolsonaro me atacaram muito diretamente. É inegável e não entendo o porquê”, afirma.

Soraya propõe a ampliação da rede Casa da Mulher Brasileira, distribuição de armas não letais e aulas de autodefesa como forma de combater a violência contra mulheres. É contra a legalização das drogas e do aborto fora os casos já previstos em lei. Da bancada ruralista, a senadora defende o marco temporal como regra para demarcar terras indígenas.

A seguir, o que propõe a candidata.

MARIE CLAIRE A cada dois dias uma mulher morre em decorrência de aborto ilegal no Brasil. A senhora defende a lei do aborto como é hoje, que permite o procedimento apenas em casos de gravidez decorrente de estupro, anencefalia do bebê ou risco de vida para a mãe?
SORAYA THRONICKE
 Sou cristã e contra o aborto. Aceito as exceções da lei, e temos que intensificar a prevenção. O SUS já permite isso com métodos contraceptivos. Aqui no Senado Federal tiramos a obrigatoriedade da autorização do marido ou da esposa para fazer a ligadura ou a vasectomia. Abaixamos de 25 anos para 21 anos a possibilidade de você fazer a laqueadura.

MC Em 2021, uma mulher foi vítima de feminicídio a cada sete horas e uma menina ou mulher vítima de estupro a cada dez minutos, considerando apenas o que chega até as autoridades. Como combater a violência contra a mulher?
ST
 A segurança pública, os agentes, todo o nosso aparato está sucateado. Agentes de segurança estão abandonados, inclusive do ponto de vista da saúde mental. Indíces altíssimos de suicídio. Precisamos cuidar das pessoas que trabalham na segurança pública e cuidar da estrutura dela.  E pra isso preciso de dinheiro. Tudo depende também de boa gestão e de combate à corrupção. Mas como é que vamos tirar o Brasil dessa situação financeira catastrófica? Colocando em prática a reforma tributária.

É a proposta do imposto único federal. Substitui onze tributos federais por um imposto só, que terá uma alíquota de 1.26%. Uma alíquota bem baixinha que vai ser cobrada de forma digital no depósito e no saque. É relativa à movimentação financeira. Quem movimenta pouco dinheiro paga pouco. Iremos isentar de imposto de renda e de contribuição previdenciária, o INSS, todas as pessoas que ganham até cinco salários mínimos. Iremos desonerar a folha de pagamento. A contribuição patronal também vai ser isentada.

O governo cortou investimentos em várias áreas que são cruciais. Coletes vencidos, não tem munição, não tem treinamento. Consegui indicar emendas para as delegadas do Mato Grosso do Sul, comprando Glocks para elas. São armas mais modernas, mais leves e menores.

MC A senadora então defende a ampliação dos gastos do Estado?
ST 
Sim, defendo. As mulheres não têm amparo nas delegacias do Brasil. Temos pouquíssimas Casa da Mulher Brasileira e lá em Campo Grande, onde moro, tem a Casa da Mulher Brasileira que é o exemplo. Sou advogada de família, entendo disso e tenho um projeto de lei que propõe armas não letais para as mulheres poderem se defender. Também tem o projeto de lei que obriga municípios com mais de cinquenta mil habitantes, por meio do CRAS, tenham aulas de defesa pessoal. Tem uma lacuna na nossa legislação que não deixa claro o que é permitido de arma não-letal. Como presidente da República, vou investir e dar para cada mulher um spray de gel, um spray de pimenta, seja qual for a melhor metodologia que permita que essas mulheres consigam se defender.

MC Defende então a revogação do teto de gastos?
ST
 Não, defendo o aumento de investimento dentro do teto de gastos e uma melhor gestão disso. No teto de gastos, temos a questão do custeio e a questão do investimento. O teto de gastos tem que ser reformulado. Temos que ter limite. E o limite é igual ao limite da nossa casa: não pode gastar mais do que arrecada. O governo gasta muito e mal. Estamos usando o teto de gastos apenas para custeio e deixamos de lado o investimento. Vamos ter que apertar o cinto, fazer uma reforma administrativa e cuidar da parte de investimento também.

Não defendo inchar o estado mais do que está. Defendo boa gestão. Estamos com as pessoas passando fome, fuçando na lata de lixo para ter o que comer e aí vem a isenção de jet ski.

MC A senhora é favorável à agenda pró armas de Bolsonaro?
ST
 Fui eleita com o governo Bolsonaro. Votei a favor de algumas liberações, como foi o caso da área rural, em que a pessoa só poderia ter posse de arma dentro da sede, e conseguimos estender à toda a área. Estávamos votando no Senado a questão dos CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), e várias categorias queriam ser incluídas, todo mundo queria andar armado. E esse pessoal dos CACs começou a ameaçar senadores. Fui a primeira a ir contra, estavam ultrapassando todos os limites. Sou responsável, racional. Não pode deixar a rédea frouxa de jeito nenhum. Tem que ter critério.

MC Trinta e três vírgula um milhões de brasileiros passam fome. As famílias chefiadas por mulheres são especialmente atingidas: 63% desses lares apresentaram algum patamar de insegurança alimentar. Quais políticas públicas devem ser implementadas para as mães solo, que já são mais de 11 milhões no Brasil?
ST
 É inadmissível que o país, considerado o celeiro do mundo, chegue numa situação dessas. Para cuidar das pessoas, preciso cuidar da economia e fazer a reforma tributária. Me atento muito a esse tema, e principalmente às mulheres, somos arrimo de família da maioria dos lares brasileiros. Mas confesso que entre homem e mulher passando fome, todo mundo é ser humano.

Há milhares de pessoas que dependem do auxílio emergencial, precisamos mantê-lo. Cortar gastos no supérfluo e deixar pro essencial. O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos não tem orçamento. Não tenho uma fórmula mágica e uma varinha de condão para o dia primeiro de janeiro. E não acredito que esse governo vá fazer uma transição tranquila. Vai ter que aceitar e entregar o poder, mas não vai entregar os números. Tomei o hábito de oficiar os ministérios para obter dados porque nos sites você não encontra. E isso me despertou na época da pandemia. É um governo com dificuldades de transparência, má gestão ou incompetência mesmo.

MC As mulheres são maioria dos desempregados do país, menos da metade das brasileiras em idade de trabalhar está ocupada, segundo dados do IBGE. Como pretende reverter esse cenário?
ST 
Como é que os empresários vão contratar mais? Primeiro vamos desonerar a folha. Com a implantação do imposto único federal, tiramos a carga da contribuição patronal previdenciária. Para os empresários que estão na dívida ativa, pretendemos fazer uma compensação desse débito com geração de novos postos de trabalho. Ou seja, aquele empresário que está lá com o nome sujo com o governo vai poder quitar a sua dívida gerando emprego.

MC Qual a posição da senhora sobre demarcação de terras indígenas? É favorável ao marco temporal?
ST 
Sim, o marco temporal foi criado pra gente conseguir equalizar a situação da segurança jurídica. Defendemos o direito à propriedade. Temos um problema com a segurança jurídica e em relação aos indígenas. O governo Bolsonaro disse que não iria mais demarcar nenhuma terra e que iria resolver o problema de ambos. Hoje ninguém está satisfeito. Temos terra suficiente para todo mundo. A justiça aos povos de origem já foi feita no Brasil. Temos 600 terras indígenas demarcadas que representam quase 14% do nosso território. Entender que indígenas podem reivindicar qualquer terra a qualquer tempo gera insegurança jurídica.

Precisamos melhorar a vida de quase um milhão de indígenas. Que o país dê uma resposta para todas as pessoas envolvidas nesse drama. Dar condições pros índios, pros proprietários, são cidadãos brasileiros. Todos insatisfeitos com a política adotada tanto pelo governo do PT quanto pelo governo Bolsonaro. São vinte anos sem resposta. O governo do PT se vangloria de ter feito a reforma agrária, mas jogou as pessoas nessas áreas, sem título da terra e nem condições de produzir.

MC Segundo dados do INPE, o desmatamento na Amazônia aumenta a cada ano. O que deve ser feito com relação a esse tema?
ST 
A solução para isso é o planejamento territorial estratégico e regularização fundiária para fiscalizar e responsabilizar quem está fazendo o desmatamento ilegal. E temos que estimular a bioeconomia. O agronegócio tem que caminhar umbilicalmente ligado ao meio ambiente. Tem muita gente no Brasil produzindo com responsabilidade ambiental. Precisamos fortalecer a Embrapa, a pesquisa para que a gente consiga ter dados fidedignos.

No Brasil tem que preservar 20% da área e produzir em 80%. Só que na região norte é o contrário. Só pode produzir em 20%. E aí essas pessoas ficam também desprotegidas. Por que que a gente não pode desenvolver um trabalho com responsabilidade ambiental?

MC Ao fim de 2021, o Brasil bateu novo recorde e aprovou 562 agrotóxicos. No começo deste ano, a Câmara aprovou o chamado PL do Veneno, que altera regras de aprovação e comercialização de agrotóxicos no país. A senhora defende maior flexibilização na aprovação de agrotóxicos?
ST 
Muitos dos que foram aprovados não são novos, são genéricos mais avançados e você vai trocando, igual medicamento. Inseticidas novos estão entrando no mercado porque os medicamentos mais antigos, que causam mais malefícios para a população, estão saindo de linha. Precisa da tecnologia para combater as larvas e ajudar o nosso agro com menos toxicidade. O nome ficou muito demonizado, mas na verdade são medicamentos para plantas.

Você não faz ideia do que está entrando de fertilizante no Brasil de forma ilegal, mais baratos e sem autorização. Estava com o superintendente da Polícia Rodoviária Federal agora, não sabem mais o que fazer lá no Mato Grosso do Sul. Quando você apreende uma carga de fertilizantes ilegais, são super tóxicos, sem bula. Outro problema é o descarte disso. Por isso a gente precisa ter um controle.

MC Michel Temer implementou na Petrobras o chamado Preços por Paridade Internacional, que faz com que o preço do petróleo suba a depender do contexto internacional, como tem acontecido hoje. Defende essa política?
ST 
 O grande problema das empresas de controle misto é o conflito entre maximizar lucros e garantir o bem-estar da população. Nosso país não possui capacidade de refino e importa combustível. Então para evitar o desabastecimento e prejuízo, devemos praticar preços internacionais. A política correta é praticar a paridade internacional de preços e o governo subsidiar o consumo de forma focada nos grupos necessitados.

MC Estima-se que 6,1 mil pessoas morreram como resultado de violência policial em 2021. Defende mudanças no sistema de segurança pública?
ST 
Muitas. Investimento na segurança pública, que está sucateada, nos agentes, na vida deles, na saúde deles. A segurança pública não deve estar atrelada a políticas de governo, é questão de Estado. As polícias devem trabalhar com autonomia. Uma das minhas propostas é ter mandato para o diretor geral da Polícia Federal de dois anos, intercalado com o da presidente da República, para que não haja interferência política.

MC A população carcerária no Brasil chegou a 919 mil presos, ficando em terceiro lugar no ranking internacional. O que pensa sobre a política de encarceramento em massa e a chamada guerra às drogas?
ST
 Os presidiários estão em uma situação deplorável. Sem dignidade, com tempo ocioso dentro dos nossos presídios. Uma das nossas propostas, construída pelo ex-ministro Sérgio Moro, é em relação à federalização dos presídios. Tem alguns cálculos que dizem que um preso custa mais caro do que uma criança na escola. E temos presidiários riquíssimos, que têm condições de quitar essa dívida com o Estado. E aqueles que não têm, que são a maioria? Propiciar que consigam trabalhar, com pagamento, remissão da pena a cada três dias trabalhados. Também estamos desenvolvendo um trabalho da dignidade menstrual. Queremos fazer fábricas de absorvente feminino dentro dos presídios e de fralda geriátrica.

Precisamos investir na estrutura das polícias que trabalham nas fronteiras. Não sou favorável à legalização de nenhuma droga. Sou favorável para uso medicinal. Tenho uma cliente que nasceu com paralisia cerebral, que tinha cerca de trinta compulsões por dia. Somente o medicamento à base de canabidiol conseguia fazer com que essa menina tivesse uma vida um pouco mais digna. Tive que entrar na justiça para conseguir do Estado.

MC No debate presidencial, a senhora disse que tinha muito a entregar com relação ao governo Bolsonaro e inclusive pediu um reforço na sua segurança. Pode explicar a que se referia naquele momento?
ST 
Não falei que era em relação ao Bolsonaro, exatamente. São questões que vejo dentro dos bastidores, após quase quatro anos no Senado Federal. Tenho sofrido ataques, sido vítima de fake news e informações distorcidas. Em 2018, sofri também violência política. Fiz campanha com colete à prova de balas. Teve uma série de perseguições dentro do próprio partido, de parte dele. Venderam minha candidatura e tive que lutar para chegar aqui. E é nesse sentido que não vou me intimidar por absolutamente nada. Saibam todos que estou aqui numa candidatura pra valer.

MC Mas a senhora foi eleita fazendo campanha para Bolsonaro. Em que momento isso muda?
ST 
Fui eleita levantando bandeiras. O homem tem o direito a errar e se arrepender. Me mantenho absolutamente fiel aos princípios: combate à corrupção, o mercado liberal. Ele abandonou as bandeiras. Quando os filhos dele me atacam me chamando de traidora, os chamo de traidores da pátria. Fiquei muito decepcionada. Virei o voto de muita gente que ia votar no Haddad. Trabalhei muito pro Bolsonaro ser eleito.

MC E não faria isso de novo, num eventual segundo turno?
ST
 Não faria. Não me arrependo porque naquele momento estávamos rompendo um ciclo. E ele foi a força motriz daquele movimento, anti PT e anticorrupção. Foi disruptivo e necessário. Hoje é outro momento. Quantas pessoas estavam com eles e não estão mais? Ele nos enganou.

Fonte: https://revistamarieclaire.globo.com/Feminismo/Politica/noticia/2022/09/soraya-thronicke-propoe-armas-nao-letais-para-mulheres-se-defenderem.html